quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

RADIOGRAFIA DE POETA

reverto o pó da essência
ao papel da existência

encontro-me
na pouca porção
que faz o muito
de toda gente

a escrita me habita
com suas promessas
de eternidade

sou mesmo esse bicho estranho
de trezentas e sessenta cabeças

deu-me Deus
de suas entranhas
ser o outro nos outros

à despeito
dos muitos outros
que sou

Paulo Ednilson

DIGITAIS

minto o medo
mato o mito

meço a covardia
na coragem
da fuga

o crime
seria perfeito

se não levasse
impressas
no peito

as digitais
do teu amor

Paulo Ednilson

FUGA

cala no peito
um grito que a voz
não alcança

um grifo na aurora
um intervalo indecifrável
entre a luz e a escuridão

outros olhos
nos meus olhos

outras vozes
na minha voz

algo inquieto
e indizivel

mas, contudo,
de uma sensação
espetacularmente aprazível

como repuxo de maré
ventarola beijando mar
depois da tempestade

sol se abrindo
depois da chuva

cão vadio
perambulando sem coleira
livre da colera das horas

é nesse intervalo
que está presa

e vez ou outra
me escapa

a poesia

Paulo Ednilson

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