domingo, 27 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
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Por Benedito C. Lima
domingo, 20 de março de 2011
quinta-feira, 17 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
sábado, 12 de março de 2011
quinta-feira, 10 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
segunda-feira, 7 de março de 2011
domingo, 6 de março de 2011
REMAMO: A Feira do Livro de Porto Alegre e o Onírico Porto...
sexta-feira, 4 de março de 2011
08 de Março - Dia Internacional da Mulher"MULHER"¨Aceitei contradições, lutas e pedras
Como lições de vida e delas me sirvo.
Aprendi a viver!!!¨ (CORA CORALINA)
Deus não erra e a fez mulher.
O dom mais bonito lhe foi oferecido:
Ser mãe.
Mulher amiga, companheira,
Parceira nos bons e maus momentos.
Seu dia desconhece hora, mas é lembrada
Quando seu filho chora,
À procura de afeto e carinho.
Mulher às vezes maltratada,
Como foi Maria da Penha.
Bom lembrarmos Cora Coralina,
Poetisa de todos os tempos,
Que aos setenta e cinco anos,
Fez seu primeiro livro,
¨O poema dos becos de Goiás¨
À você mulher,
Esta simples homenagem.
Comemore o seu dia
Com a certeza do dever cumprido.
PAULO ODAIR.
CEL:011-7262.3682
e-mail: paulodapoesia@hotmail.com
quinta-feira, 3 de março de 2011
terça-feira, 1 de março de 2011
Poemas e Poetas
Alex Rodrigues Paiva nasceu em Valença, Estado do Rio de Janeiro no dia 21 de julho de 1978. Filho de Aladim Paiva, um funcionário público estadual e de Maria Aparecida Rodrigues Paiva, tecelã de uma empresa têxtil da região chamada Santa Rosa, estudou desde a pré-escola até o ensino fundamental no Instituto de Educação Deputado Luiz Pinto, onde teve seu primeiro contato com a “Ciência por trás das Coisas”. Já na sétima série do ensino fundamental interessou-se pelas Artes e em especial pela Arte de Escrever. Participou de cinco edições do Concurso Intercolegial de Beleza e Arte Estudantil de sua cidade, sagrando-se vencedor na modalidade Poesia em três edições e na modalidade Artes Cênicas em uma com a esquete de Hamlet de William Shakespeare, interpretando a personagem Cláudio.
Estudou no Colégio Estadual Theodorico Fonseca onde fez o ensino médio e preparou-se para o Concurso de Admissão às Escolas de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina, sendo admitido em janeiro de 1997 àquela Escola. Já em 2001, compôs a tripulação do Navio Escola Brasil e realizou a XV Viagem de Instrução de Guardas-Marinha, tendo visitado vinte países ao redor do mundo onde teve a oportunidade de vivenciar “in loco”, muito do que lhe fora ensinado pelos livros de escola. Galgou as graduações de Grumete, Marinheiro, Cabo e finalmente em 2008, após concluir com aproveitamento o Curso de Habilitação à Promoção de Sargentos no Rio de Janeiro, no início de 2009, foi transferido para cumprir missão na fronteira extrema-oeste do Brasil no Comando do Sexto Distrito Naval situado
ALEX RODRIGUES PAIVA
tel.: 67-99785764
Corumbá/MS
UFMS
Mentes transfronteiriças
Num dos momentos mais magistrais de nossa História, estaremos todos derrubando as muralhas circundantes de nossas fronteiras pessoais e fazendo a grande integração que nos tornará membros de um mesmo clã.
Sim... há barreiras que nos isolam de nós mesmos. Que nos segregam de nossa própria condição humana. Que nos “egocentrizam” num mundo virtual, paralelo e sub-reptício.
Estórias trazidas à tona pela própria História. Nações inteiras afogadas num consumismo desenfreado, retirando de nossa galeria de conquistas a mais doce entre todas: a compaixão suscitada pela miséria alheia. São esses os nossos limitadores.
Somos seres... alguns, humanos, outros, simplesmente homo sapiens. Colocamo-nos no ápice da evolução das espécies, somos pois, os dominantes de todas as ditas subespécies restantes. Somos pois, os civilizados dentre todos os seres viventes nesta grande Nave-mãe-Terra. Seríamos mesmo?
Ao analisarmos nossas ações, chegamos a outras conclusões. Somos a única espécie juntamente com os porcos que poluímos a própria água que nos sustenta. Somos a única espécie que destrói seu habitat, não por necessidade, não por sobrevivência, mas sim por um vulgo “bem maior” chamado desenvolvimento industrial – mola-mestra de nosso tão celebrado Capitalismo. Somos a única espécie deste planeta que mata outros seres de sua mesma raça. E ainda sim, somos civilizados. Somos?
Talvez devêssemos ser mais silvícolas. Talvez devêssemos aprender mais com nossos companheiros de jornadas destituídos de civilização – os animais. Não construíram grandes impérios, é verdade! Não perpetuaram sua história nos séculos, não desvendaram mistérios indissolúveis, não chegaram a Lua... mas tampouco, destruíram seu planeta em nome da supremacia de seus interesses civilizatórios, mataram membros de sua espécie guerreando em nome de Deus, da paz ou da Liberdade.
Lembremo-nos que a desgraça não respeita fronteiras. A morte não precisa de visto e sua bagagem não possui limite de peso ou itens a serem levados. Ela simplesmente toma o que escolhe. Assim, o mal que plantamos em nossa enésima parte do planeta, terá sua contribuição diretamente proporcional ao mal maior em todo o ecossistema. Estamos vendo tais sinais. Geleiras contraindo-se alarmantemente devido ao aquecimento global, inundações catastróficas em várias partes do globo, secas exterminadoras, fome mortal... Percebemos pois, que tais eventos cataclísmicos são cada vez mais recorrentes e certamente decorrentes de nossa supremacia civilizatória. Tais paradigmas provam que a extra-territorialidade de nossas ações são transfronteiriças.
Há também que se notar que o homem como indivíduo integracionista possui fronteiras personalíssimas, afinal é um microcosmo associado a outros microcosmos formando legiões que devido aos seus laços sócio-culturais se acomodam de maneira nacional em seus “berços esplêndidos”. São essas fronteiras que são tão perigosas quando não se permite sua derrocada. Nunca se viu um gato, um cachorro, um avestruz ou qualquer outro animal com preconceito, com racismo de seu semelhante. Entendem-se todos dentro da mesma espécie como seres iguais. Respeitam-se mutuamente... Talvez esse seja o maior exemplo da Natureza: a equidade entre cada indivíduo e o respeito inequívoco entre eles.
Devemos lembrar a cada dia da necessidade de tratarmos nosso semelhante por meio do princípio reflexivo: somos todos reflexos genéticos de nossos antepassados, assim, compomos uma única sinfonia universal que em seus acordes mais afinados nos bradam a nossa fraternidade global, nossa igualdade racial e nosso bem maior, a liberdade transnacional desta grande Aldeia-Mundo. Somos todos de uma única raça – a Raça Humana. Somos todos de um só lugar – O planeta Terra. Assim, nada mais pertinente que entendermo-nos todos como pura e simplesmente terráqueos.
Caiam as fronteiras do egocentrismo de cada um de nós, caiam as fronteiras do preconceito nacionalista, caiam as fronteiras do preconceito racial. Este é o bem maior que a capacidade de reconhecer letras levará aos quatro cantos do planeta, esta é a bandeira a qual levantamos em nosso mastro espiritual. Esta é a proposta que a formação de Professores de Língua Portuguesa traz em sua contextualização: assim como o conhecimento não tem fronteiras – é universal, assim serão nossas atitudes enquanto Seres verdadeiramente Humanos. Seremos nações-corpóreas acolhendo outras nações-corpóreas, destituídas de preconceitos, racismos ou quaisquer formas segregacionistas que aniquilam a nossa capacidade plena de se reconhecer no próximo, sentindo em nós mesmos a dor que acomete o outro!
SONETEANDO A METALINGUÍSTICA
Alvorada Matutina da humana raça,
Esplendor rude, desajeitada escrita.
Pôs nas paredes das mais diversas criptas,
Perpétua representação da vida em caça.
A volúpia indiscreta desta eterna arte,
Em gritos explodidos nas mais suaves cores,
A rupestre beleza em seus plenos rumores
Transcrita neste belo e natural encarte.
Mesopotâmia, oh! Revolução cuneiforme!
Tu permitiste que aos nossos atuais dias,
A História trouxesse o seu mais belo informe.
A escrita – reação da comunicação humana,
Via única ao imortal para tudo que se cria,
É a alternativa a qual toda dúvida sana.
Alex Rodrigues Paiva – Out/2010.
3 POESIAS PARA O POEMA
GAZA - Janeiro 2009
As bombas chovem sobre Gaza
a região está cercada,
tortura, dor e morte, o inferno desce
sobre a alma ressequida da Palestina;
rios de sangue se abrem ligando passado e futuro
presente e eternidade;
Israel quer destruir os túneis
que levam alimento, remédios
água, leite...
para as crianças do povo palestino,
pois eles também transportam armas,
por isso as bombas descem e a dor
multiplica-se.
O desespero existe e está
em cada rosto de criança faminta
que implora por uma gota de luz
por uma centelha de pão.
Que culpa esta criança teve de nascer
do lado de lado das cercas
na Gaza boicotada
cercada
transformada em campo de concentração
esta criança poderia nascer em qualquer país
mas nasceu num inferno
e no inferno ela sonha
imagina um futuro de luz
para seu povo sofrido...
Anos de boicote e massacre
e agora mais ainda
o sangue corre
o sangue pinga
latejante
no solo árido da Palestina
sangue de inocentes
sangue de crianças despedaçadas
o inferno parece estar aberto
sobre a Faixa de Gaza...
os túneis existem para impedir
que o povo morra de fome e sede
o boicote aniquila a alma do povo palestino.
Pilhas de cadáveres
amontoam-se nas ruas
os cadáveres são devolvidos pela família
pois ela não tem
dinheiro para sepultá-los
e os próprios cemitérios se transformaram
em favelas
agora a morada dos vivos se
tornou a morada dos mortos
e a morada dos mortos
tornou-se a morada dos vivos
crianças vivem em tumbas
mães fazem alimento para os seus filhos
nos jazigos...
o próprio cemitério não escapou das bombas
acusaram a morada dos mortos de abrigar
combatentes islâmicos
e vomitaram bombas sobre as catacumbas
a miséria e a fome chacinam milhares
por isso o povo palestino
preferiu provocar Israel com foguetes
para uma guerra total
pois é melhor morrer com as bombas
do que morrer de fome...
muitos corpos estão nas ruas apodrecendo
cobertos de moscas
enquanto o mundo assiste o bombardeio
sem nada fazer,
há protestos
mas são poucos diante do desejo de Israel e dos EUA
de se livrar do problema palestino
semeando bombas
semeando a agonia
fria da morte
a dor do abismo que lateja nos peitos.
toneladas de alimentos estão esperando
para serem enviadas a Gaza
mas Israel não aceita
quer punir Gaza pela fome e pelo cerco
mas o preço maior quem paga
são as crianças
os pobres desesperados e famintos da Palestina
Israel culpa o Hamas por causa dos foguetes
mas esquece ou finge esquecer do bloqueio
que matou crianças de fome
esmagando o povo palestino
como conseguir a paz se semeamos a morte
a fome
o desprezo e o genocídio?
O povo já está faminto
e as bombas descem do céu de chumbo...
o inferno invade a terra
a morte cava túmulos em muitos lares
esmagando corações e mentes
as câmeras do mundo inteiro
mostraram um menino palestino
enfrentando os soldados e tanques com pedras
sem recuar um só passo
uma mulher idosa também agitava
a bandeira palestina
diante de soldados israelenses
em cima das ruínas de sua casa
são por causa destas cenas que eles
proibiram a imprensa na faixa de Gaza
não querem mostrar o desespero
e a luta de vida e morte de um povo faminto
um palestino sem braço
cada bomba que cai do céu
planta uma lágrima no
coração mutilado
da criança
o mundo finge ver a dor de Gaza
mas enquanto os filhos do
ocidente dorme em colchões macios
os filhos de Gaza dormem
sobre espinhos e chamas da morte,
mutilado pelas bombas
grita enquanto morre
DEUS É GRANDE
DEUS É GRANDE
o inferno só não conseguiu apagar a fé da alma deste povo
a fé continua e está cada vez mais forte
lapidada na mais dura rocha
no mais valioso diamante
uma brasileira que mora em Gaza
falou para sua mãe através da TV
não temas minha morte mãe
estou preparada para morrer
para ir a um lugar melhor
pois aqui é o inferno...
atingiram o depósito de alimentos da ONU
a ajuda humanitária de várias nações para
o povo palestino faminto
tornou-se cinzas
a cantar sua sinfonia rouca sobre as almas
o som das bombas que estouram
lembram que o homem ainda não
encontrou a paz
pessoas correm pelas ruas sem destino
em meio a cadáveres e a milhares de feridos.
O sangue dos palestinos
Brota na terra
Cria um mundo de dor e agonia
Cria um mundo de vazio e solidão...
O sangue dos palestinos
escorre como tinta
flui como chuva sobre a terra
seca de Samaria
Como levar a luz ao coração palestino
dilacerado pelas guerras
moído pelo destino?
Só Allah é a esperança
Só ele conforta os corações desesperados
e liga as almas partidas
com o cimento da esperança...
o silêncio da morte
só é quebrado pelo estertor das bombas
elas são vomitadas
nutrindo a morte
nutrindo a agonia lenta
que brota na terra santa
criando um vazio de dor
e solidão...
Um estertor de silêncio
os túmulos se multiplicam
a terra da faixa de Gaza
não tem mais lugares para
abrigar os milhares de cadáveres...
a terra de Gaza
converteu-se num holocausto
sem fim
de dor e desprezo
o mundo finge não ver
a dor dos palestinos
assim como no passado
ignoraram a dor dos judeus
assassinados por Hitler
o mundo mais uma vez fecha os olhos
dominado pelas grandes corporações
que visam o lucro
enquanto crianças famintas
brigam por um pedaço de pão
e crianças despedaçadas pelas bombas
arrastam-se mutiladas
no solo áspero da Palestina...
O inferno brota das bombas
o som delas é uma sinfonia de perdição
uma cantiga fúnebre...
BAGDÁ OBSCURA
Eu fui um dia num lugar sem luz
Corpos despedaçados
Repugnantes
repousavam nas calçadas
cães lambiam aquele sangue coagulado
ou mesmo o sangue que corria fresco,
fresco como as mãos da Morte
cantando uma marcha fúnebre de solidão
solidão daquele que perdeu seu parente
que agora vive o inferno de seu
eu sem luz…
Era escuro,
eu fui um dia num lugar sem luz
sem luz porque apagaram a luz
para furtar uma gota do ouro negro.
Petróleo maldito
ouro negro que mancha o solo
de líquido vermelho
o sangue escorre
é limpo com um rodo
o sangue escorre no lugar obscuro...
É sangue que fala profundo
profundamente destrói os lares
aprofunda os corações no vazio
no vazio da Morte.
Bagdá, cidade sem luz.
Agora está deserta
obscura
a guerra converteu a cidade
num imenso cemitério.
Sinto o cheiro de cadáver em cada rua
o cheiro da morte entra em minhas
narinas e me faz chorar.
Isto é democracia?
A cidade toda agora é um cadáver,
pessoas agonizam e imploram
por uma gota de luz.
Foram eles que trouxeram a morte
eles juraram em nome da democracia
e da paz.
Eu fui um dia num lugar obscuro
outrora um lugar de luz
agora uma porta para o inferno...
Inferno da guerra
crianças despedaçadas
são recolhidas em sacos plásticos...
Pedaços de corpos de meninos e meninas
são devorados pelos cães.
Não há mais lugar para enterrar os mortos
A terra já vomita
os milhares de corpos...
de uma gota de petróleo
brotou um oceano de sangue...
POESIA 1
Sombras de uma alma que se esvai
sobre o nu da vida
Deus
Eu queria falar contigo
e contar sobre aquela criança pobre
que bate ao meu portão
sobre aquele andarilho que ontem
eu vi transitar
sobre aquele índio
que sentado
abandonado a beira do caminho
pela ganância dos brancos
pede esmola
sobre o negro perseguido
por uma sociedade exclusivista
sobre o pobre que ontem ficou
sem o café da manhã
queria falar contigo
sobre a invasão do Iraque
sobre a asfixia da Palestina
sobre a fome na África
falo todos os dias
mas parece que não ouves
ou será que meu coração perdeu
a trilha
nas trevas do caminho
eu queria falar contigo
sobre a lagrima que ontem
vi correr nos olhos da criança órfã
eu queria falar contigo
sobre a dor do pássaro na gaiola
sobre as matas sendo devoradas
pela loucura do homem
tenho muitas coisas a falar
mas não te ouço
responder
minha dor aumenta
minha loucura é insana
minhas lágrimas me enlouquecem
rio seco
rio seco é minha alma
rio sem destino
sou o pobre de pés descalços
o índio ao qual roubaram a terra
sou o bêbado que cai nas calçadas
sou o drogado que todos os dias
sonha
em sair da prisão das drogas
sou a criança pobre
que sonha em receber um brinquedo
no natal
sou a criança órfã
que sonha em reencontrar a mãe
no infinito
sou o pai de família desempregado
com a mesa vazia
sou a mãe sem leite
para amamentar
o poeta deserto
a poesia sem luz
não quero ver meus filhos
pedindo pão
prefiro um copo de cachaça
para esquecer que existo
pois todos os dias me negam o emprego vital
sou o índio que pede esmola
pois arrancaram sua mata
cortaram sua alma
secaram seu lago
sufocaram seu rio
Deus
lembra que meu coração ainda existe
apesar de tanta dor
meu coração de brasileiro pobre
e excluído.
Sou o negro perseguido
a criança sem uma cama
para repousar a cabeça
sem um pedaço de pão
para matar a fome
CAVALOS
É no mínimo estranho encontrar agora, pouco antes do casamento do meu único filho, esse cachimbo que foi de meu avô. O sangue da vida se comunica com a gente das maneiras mais inimagináveis. Chega a ser mórbido o modo como a experiência se repete e a pessoa para quem gostaríamos de dizer: “Você tinha razão o tempo todo”, já não está mais aqui para ouvir que enfim aprendemos.
Ele costumava fumar esse cachimbo enquanto me ensinava a jogar xadrez. Parecia fazer também parte de seu corpo, o cachimbo, um prolongamento de suas idéias e de sua boca enérgica. Era quando a mãe não estava em casa que ele ia me visitar, ou então ele me pegava na saída da escola e passávamos a tarde junto. Meu pai, seu genro, parecia gostar muito mais dele do que a própria filha. Era condescendente, o pai. Ela, a mãe, não conseguia perdoá-lo. Ela nunca conseguiria dizer pra ele: - Eu te perdoo.
- Você precisa aprender a dominar os cavalos. Eles são imprevisíveis. Andam
Gostava de jogar com as peças pretas. Nesta altura da vida tinha aprendido a dominar seus cavalos negros, mas nem sempre fora assim. Meu avô foi um daqueles caras que errou feio e errou bastante. Por muito tempo quis sugar o magma da vida, não se conformava em acompanhar apenas o balanço da maré. Ele quis construir novos oceanos, navegar lugares desconhecidos, arrancar com os dentes pedaços da carne cinza das horas. Isto tem um preço, às vezes alto demais. Leu filosofia, escreveu tratados. Estudou artes, pintou quadros. Participou de revoluções, houvesse um lugar onde a tirania e a barbárie ameaçassem o espírito e a liberdade dos homens e lá se ia meu avô. Arma em punho idéias na cabeça, defender o que acreditava. Viajou o mundo. Amou mulheres. Meu pai também gostava de ouvir suas histórias, mas sabia o quanto era difícil e perigoso ter um coração assim... em fogo ardente o tempo inteiro. É preciso aprender a dominar os cavalos.
***
- Ariel – Grita a esposa de dentro da casa – você não é o pai da noiva, nem ela pode se atrasar Deus que nos livre, mas se continuar demorando assim vai atrasar o casamento do nosso filho e o padre avisou que tem dez casamentos para fazer hoje. Casal que atrasar mais de quinze minutos não casa mais.
- Já vou, mulher. – Ele grita de volta da garagem. O cachimbo nas mãos. É um dia frio e lá fora começa a garoar. – É preciso aprender a dominar os cavalos! - repete baixinho olhando o céu de chumbo lá fora, como se alguém por trás das nuvens pudesse ouvi-lo.
***
- Vovô, por que a mãe não conversa com o senhor?
- É uma longa história, filho. Concentre-se no jogo.
- Por que vô? Ela não é sua filha? Por que ela não te pede nem a benção? O senhor é um homem tão bom, todo mundo adora o senhor. Só ela é que não quer nem te ver. Isso não tá certo, vou falar com a mãe. Vou dar uma dura nela. Ela precisa mudar isso.
- Você é só um menino, não se meta em assunto de adulto.
- Mas vô!
- Ponha-se no seu lugar, você é só um menino. Além disso, ela tem os motivos dela. Quem sabe um dia isso tudo passa. Quando estiver maiorzinho você vai compreender.
Eu devia ter uns doze anos nessa época. Ofendia-me quando alguém dizia que eu era só um menino. Eu já fumava e queria agir como um homem, queria também ser respeitado como um homem.
- Por que, afinal de contas, a mãe não conversa com o vô, pai? – Perguntei nessa mesma noite, enquanto tomávamos um leite na cozinha, meu pai e eu. A mãe estava na faculdade de Filosofia. Era a terceira faculdade que ela terminava... E lia, o tempo inteiro, embora nunca conversassem, os mesmos livros sobre os quais meu avô me falava.
- Isso não é da sua conta. Você ainda é muito jovem pra se meter nesses assuntos de adulto.
- Todo mundo diz isso que eu sou jovem... sou jovem... mas eu já sou um homem, sei muito bem compreender as coisas. Vocês deviam me respeitar um pouco mais.
- Você é que devia me respeitar, afinal de contas eu sou seu pai.
- Eu não estou te desrespeitando pai, só queria saber da verdade.
- Tudo bem, já que você quer tanto saber, lá vai... Não é nada de outro mundo. Quando sua mãe tinha uns dez anos, seu avô pegou as coisas dele, montou no cavalo e foi embora de casa com um rabo de saia. Deixou sua vó, sua mãe e seus tios, sem eira nem beira. Sua mãe, que era a mais velha, teve de largar os estudos e trabalhar como faxineira na casa da tia Alice para ajudar no sustento da casa. Cinco anos depois, ele voltou com o rabo entre as pernas, arrependido, sua avó o aceitou de volta e o perdoou, seus tios e tias também. Sua mãe, não. Desde o dia em que ele partiu até hoje, nunca mais trocou uma palavra com ele.
- E isso já tem mais de trinta anos, né?
- Pois é, mas você conhece a sua mãe. É a melhor pessoa do mundo, desde que você não pise na bola com ela.
***
- Ariel!!! Pelo amor de Deus homem. Vem logo se arrumar. A gente vai perder o casamento do João!!!
- Já vou... já vou...
- Agora!
- Estou indo.
***
Era mil novecentos e oitenta e eu tocava numa banda punk quando fui visitá-lo no hospital. Estava morrendo, meu avô. Enfisema pulmonar. Ele fumara demais por tempo demais. Já estava bem velhinho, encarquilhado, acho que nos últimos anos, ele tinha encolhido uns dez centímetros, era o contrário de mim que crescia como um uma girafa acasalando. Um adolescente ao contrário, meu avô. Estava dormindo quando eu cheguei, tinha um cano de plástico em forma de anzol espetado na boca e sondas nos braços. Deus o tinha fisgado. Não era um anzol muito especial aquele em sua boca, não para um peixe tão importante.
Eu me encostei do lado da cama e segurei a mão dele. Acariciava com meu dedão as costas de sua mão. Até os pêlos dos dedos estavam totalmente brancos.
Ele abriu os olhos, devagar. Parecia que as pálpebras pesavam uma tonelada. Queriam se fechar pra sempre, mas ele era um cara duro... cada ruga de seu rosto desvendava um rosário de erros e acertos. Era só um homem, mas qualquer mulher que tivesse um pouquinho de alma gostaria de beijá-lo na boca naquele momento. Não era um velho ali, diante de mim, era o mistério da vida com tudo o que ela tem de tristeza e de alegria.
- Que bom que você veio, filho – Disse – mas que cabelo ridículo é este? - Eu fui um daqueles caras que teve uma adolescência rebelde e prolongada, talvez herança do meu avô. Nos últimos tempos, tinha me afastado de toda família, até do meu avô. A gente faz cada bobagem nessa vida.
Passei a mão nos poucos cabelos que ele tinha na cabeça.
- Não fala nada vô, descansa. Eu só quero ficar aqui com o senhor.
- Eu só gostaria de ter o meu cachimbo aqui. – Sorriu. Respirou outra vez com dificuldades – Você guarda alguma mágoa minha, filho? Eu fiz muitas coisas erradas... muitas vezes...
- O rock n´ roll não julga ninguém vô.
- Que mané rock n´ roll... eu estou falando é da vida.
- Eu sei porque a mãe não fala com o senhor.
- Eu sei que você sabe. Está magoado com tudo o que aconteceu?
- Não vô, todo mundo faz cagada.
- Você acha que algum dia ela vai me perdoar?
- Já perdoou vô, mas é orgulhosa demais pra admitir isso. Acho que ela queria que o senhor fosse até ela, talvez de joelhos, pra pedir perdão. Nesse assunto de vocês ela ainda não cresceu. Continua estudando como uma doida só pra te provar alguma coisa. Talvez ache que você não a ame, que o senhor nunca a amou de verdade. Ela é exigente no amor. Acho que só estuda tanto porque acha que assim um dia o senhor vai admirá-la e amá-la de fato.
- Eu a amo mais que tudo. – Disse e pareceu se engasgar com a própria saliva. Soluçou. - Vocês também estão brigados, não é? Seu pai me disse.
- É que ela é muito mandona... exige demais dos outros.
- Todos nós dessa família, e isto inclui você, tem esse coração impulsivo e
Quando saí do hospital naquele dia, os olhos dele me acompanhavam. Acho que olhei umas quatro ou cinco vezes pra trás e ele continuava olhando para a porta de vidro, além de observar a minha partida, esperava, muito mais, que alguém chegasse. Mas esse alguém que ele esperava não foi vê-lo e então, antes de outro dia amanhecer, ele morreu. Existem homens que se tornam imensos quando estão morrendo. É necessário, mais que viver, ser homem o bastante para morrer sem espernear.
No funeral havia muita gente. Contavam histórias e mais histórias sobre meu avô. Ele tinha de fato muitas histórias. Minha mãe estava lá. Não quis nem que meu pai permanecesse por perto. Ficou agachada num canto. As lágrimas grossas escorrendo em silêncio pelo rosto. Ela não deu um pio. Quando desceram o caixão, aproximou-se da cova e jogou um punhado de terra. Acho que, só neste dia, ela envelheceu uns quinze anos, talvez mais. O cabelo, no decorrer do enterro, de negro ficou totalmente branco. As rugas despencaram de uma vez sobre os lábios. Era triste ver o quanto ela sofria. Tentei abraçá-la, mas ela me repeliu. Queria ficar só com sua dor como um canceroso que se agarra a seu tumor enquanto ele o mata.
***
- Ariel!!! Pelo amor de Deus homem.
O homem acaricia o cachimbo em suas mãos como um menino acaricia seu cachorro companheiro. Guarda o objeto no bolso da blusa e pensa que na volta da festa vai ter de passar em alguma tabacaria e comprar fumo. Pretende também comprar um tabuleiro de xadrez, uma vez que hoje é o casamento do filho e os netos não devem tardar. Nada de novo sob o sol. Experiência que se repete. É preciso domar os... mas longe dali nos estábulos das fazendas que circundam a cidade os cavalos se revoltam... há cavalos baios... negros.. brancos... malhados... eles correm sob as chuva fina em direção ao poente. Aqui na cidade, enquanto caminha para o banheiro, Ariel não sabe nada disso, mas alguma coisa se agita em seu peito.
- Você tinha razão o tempo todo. – Repete baixinho e passa a mão nos cabelos umedecidos pela chuva. Vida que segue.
Daniel Lopes tem textos publicados nas revistas literárias Amálgama, Cronópios, Germina e Escritoras Suicidas. Publicou em 2008 o romance É preciso ter um caos dentro de si para criar uma estrela que dança, em 2010 publicou o livro de contos Pianista boxeador. Vencedor do prêmio Valeu Professor 2010, categoria conto. E-mail: danielopes26@yahoo.com.br
PORQUE DELAS É O REINO DOS CÉUS
“He ain´t heavy, he is my brother”
The Hollies.
Para o meu irmão Marcos, porque sempre esteve lá.
É estranho vê-Lo sorrindo agora, quase trinta anos depois. Mas o sorriso é o mesmo, não fossem as rugas e alguns cabelos brancos, eu poderia jurar que Ele ainda é o mesmo menino. Aproxima-se sem jeito, ainda rindo meio de lado e o sorriso dEle me desafina, me faz pensar que a minha vida inteira eu poderia ter sido uma pessoa melhor. Que eu poderia ter demonstrado mais o que sentia pelas pessoas e poderia ter feito mais por elas, entretanto eu não fiz. O caso é que nunca fui mesmo muito bom com esse negócio de sentimentos e emoções. É minha natureza, ou será que esse negócio da natureza é só mais uma das minhas desculpas? Como aquelas que sempre inventei pra não ter assumido o filho que perdi, pra ter abandonado a mulher que amava, ou pra ter comido e descartado tantas outras mulheres pelas madrugadas do mundo? Vai saber. Ele por seu turno continua sorrindo. Eu tento sorrir de volta, contudo há anos que desaprendi a sorrir e minha boca é como uma pintura colada na cara.
- Paga um doce. – Ele me pede, esfregando as mãos uma na outra, como sempre fez a vida inteira. Eu estou tomando uma cerveja só para me lembrar, porque, afinal de contas, esse bairro pequeno e perdido no subúrbio é a minha memória, o meu lado mais humano, bonito e verdadeiro. Havia cinco anos que eu não vinha aqui. Nesse meu ramo de negócios não podemos ser muito humanos e nem muito verdadeiros. O fato é que, apesar de tudo, meu trabalho me deu muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo. Contudo Ele, meu amigo, não se importa com todo o meu dinheiro e continua esperando apenas o seu doce, ainda esfregando as mãos.
- Ô seu Mariano, o senhor tem caixa de bombom aí? – Pergunto ao dono do bar.
- Tenho.
- Faz um favor então, dá uma aqui pro meu amigo.
O dono do bar continua o mesmo desde que tínhamos oito ou dez anos. Tudo aqui parece continuar o mesmo. As pessoas envelheceram, mas não mudaram o olhar e nem o sorriso. As casas mudaram de cor, contudo conservaram o mesmo cheiro... o mesmo som. As ruas perderam o paralelepípedo e ganharam um asfalto novo e bonito com duas faixas amarelas pintadas no meio, no entanto ainda são as mesmas ruas onde jogávamos bola com gols feitos de chinelo ou de pedra.
- Posso me sentar aqui? - Ele pergunta com a caixa de bombom nas mãos, sorrindo ainda mais que antes.
- Claro. – Respondo e então Ele se senta ao meu lado, no chão da porta de entrada do bar.
- Desse jeito, vocês vão me fechar toda a porta e aí como é que os fregueses vão entrar? – Grita o seu Mariano de trás do balcão. Os pêlos do meu braço se arrepiam. Como é que pode? É a mesma frase que ele gritava pra gente trinta anos atrás, quando nos sentávamos ali na porta, toda a molecada, depois do futebol, pra tomar um refrigerante qualquer em copos descartáveis que ele nos dava pra não ter de lavar tantos copos depois.
- Esquenta não Seu Mariano. Eu dou uma caixinha gorda pro senhor depois. – Falo e ficamos os dois sentados ali, lado a lado, em silêncio, olhando a rua. Até que Ele abre um dos bombons e diz:
- Esse é o que eu mais gosto.
- Do que é?
- De chocolate, ora.
- Eu sei, mas ele não tem outro sabor, banana por exemplo?
- Não sei.
- Deixa eu ver a embalagem. – Ele me entrega o papel que envolvia o bombom. Crocante com recheio de creme de leite.
Eu peço mais uma cerveja e reforço para o seu Mariano a idéia de que ele tem de pegar uma cerveja lá do fundo, porque elas é que são sempre mais geladas.
- Tá tudo igual. –Ele grita de trás do balcão. Sempre teimoso e mal-humorado esse Seu Mariano. Há cinqüenta anos que vende a mesma cerveja morna.
- Esse carro bonito é seu? Ele me pergunta com os dentes ainda cheios de chocolate enquanto aponta para o meu carro preto, conversível e importado, com rodas de liga-leve, direção hidráulica, trio elétrico e sistema de freios ABS.
- É sim, gostou?
- É bonitão.
Há trinta anos foi também um carro que mudou a nossa história. Tenho de pedir licença agora, pois o que vou contar não é algo de que me orgulho e também não é uma coisa lá muito bonita. Se quiser abandonar a história ainda é tempo. Se não, creio que o que devemos fazer é nos lembrar dos sapatos de plataforma, dos cabelos black power, das calças boca de sino, do senhor Emiliano Garrastazu Médici e de tudo o mais que compunha o cenário dos anos setenta.
Não é necessário repetir que éramos pobres, entretanto eu era o mais pobre de todos. Sempre descalço, sempre poupando o mesmo velho conga rasgado e vermelho pra escola. Filho de mãe solteira, empregada doméstica. Não era fácil suportar a tiração de sarro dos outros moleques. Ao contrário do que pregam, as crianças nem sempre são boas e inocentes, há muita maldade entre meninos. Mas eu não me deixava abater porque era forte e despeitado, quatrocentas lutas e quatrocentas vitórias, de modo que eu era o líder da nossa turma, mas não era um líder bom e nem piedoso. Este mesmo rapaz que está aqui sentado ao meu lado agora, comendo inocentemente seus bombons, foi um dos que mais sofreu nas minhas mãos.Uma das diversões da nossa turma, talvez a maior delas, era persegui-lo pelo bairro jogando pedras, paus, lixo, ratos mortos e tudo o mais que encontrávamos em cima dEle. Eu sempre na frente. Sempre liderando. Sempre tendo que me sobressair e mostrar a minha força, a minha coragem, a minha maldade. Não tinha mesmo piedade, se tivesse um revólver naquela época, talvez tivesse dado um tiro na cabeça dEle sem pensar duas vezes. Só pra mostrar o quanto eu era homem, o quanto eu era forte, o quanto eu era gigantesco, potente, maior, melhor, o quanto eu era inquestionavelmente um líder.
Todavia um dia uma coisa aconteceu. É difícil contar isto com ele aqui ao meu lado sorrindo e desembrulhando seus bombons, mas vou contar de qualquer forma. Mais um dia, como sempre, nós o estávamos perseguindo. Eu ia adiante dos outros, como de costume, jogando sobre ele tudo o que encontrava pela frente. Ele era tudo o que eu mais odiava em mim mesmo, ele era a representação física da fraqueza, e eu não podia deixar espaço para a fraqueza, nem uma brechinha sequer. Naquele dia, os outros desistiram cedo da perseguição, porque alguém havia acertado uma pedrada, ou uma paulada, ou coisa que o valha bem na cabeça dele e agora ela, a cabeça, sangrava em abundância e ele chorava, mas tinha de continuar correndo, porque eu estava atrás com toda a minha fúria. Era tarde já e eu era o único a continuar na perseguição que já devia durar mais de três horas. Lembro que saímos do bairro, atravessamos a linha do trem, a avenida onde os ônibus passavam, entramos no outro bairro, onde moravam outros meninos, nossos maiores inimigos, mas não paramos de correr. Então, de repente, na adrenalina da perseguição, atravessamos uma rua sem olhar pra lado algum. Só ouvi o barulho da buzina, e do carro derrapando, e então senti o baque nas minhas pernas e voei pelos ares. O carro desapareceu na rua escura. Não fez qualquer menção de parar. Minha testa agora também sangrava e minha perna devia estar quebrada, porque eu não conseguia movê-la um centímetro sequer.
Nem nós os havíamos percebido, nem eles nos haviam percebido, entretanto, com o barulho da batida, os meninos do outro bairro, que estavam jogando futebol justo ali, na esquina da próxima rua, pararam com a bola e foram ver o que tinha acontecido. Era muita sorte pra eles. Eu ali, no meio do bairro deles, caído no chão e com a perna quebrada. Nem em seus maiores delírios eles imaginavam um milagre desses. Nem em suas orações mais fervorosas eles tinham coragem de pedir a Deus que realizasse tamanho milagre, e, no entanto, era eu mesmo lá. Eles foram se aproximando devagar, feito hienas, feito ratos, feito vermes. Eu não sentia medo, há poucos dias tinha assistido ao filme Warriors, Guerreiros da Noite na televisão e estava pronto para morrer representando minha Gang. Não fechei os olhos e nem tremi, contudo num determinado momento eles pararam, ficaram todos quietos no meio da rua. Eu não entendi. Esperava a surra, a depredação, o linchamento, a morte e nada disso vinha. Então olhei pra trás e lá estava ele, com a testa sangrando, mas imenso, com um pedaço de pau enorme na mão. Depois de alguns minutos um dos meninos gritou:
- Ih! Olha lá! Agora o Doidinho pirou de vez. Vai enfrentar nós todos só com aquele pedaço de pau na mão.
Ele apenas levantou o pedaço de pau acima da cabeça e falou com uma voz grossa e calma, como se tivesse trinta e não dez ou doze anos.
- Vem pra você ver o que te acontece.
O menino fez uma cara de espanto, não, de espanto não, de medo mesmo e se enfiou entre os outros. Aos poucos, como um exército em retirada, eles foram se dispersando. Primeiro as fileiras de trás, depois as do meio e, por último, as da frente. Um dos derradeiros garotos ainda gritou:
- Vocês estão fodidos quando a gente pegar vocês seus filhos da puta.
Ele fez mais uma ameaça com o pedaço de pau e o menino saiu correndo
- Pára com isso Marquinhos, você é o líder! – Ele disse e então me jogou nas costas com uma facilidade e com uma força que eu nunca imaginei que ele tivesse e me carregou de volta para a nossa Vila, caminhando por mais de duas horas e doze quarteirões.
Agora ele sorri de novo, comendo o último bombom e me pergunta, enquanto eu limpo com o dedo a baba que escorre pelo canto da boca.
- Posso pedir um guaraná?
- Claro. – Eu respondo.
Ainda sorrindo ele bebe quase todo o guaraná, reclamando que está doendo a testa porque o refrigerante é muito gelado.
- Então bebe devagar. - Eu falo, só que, em vez de beber devagar, o que ele faz é virar todo o refrigerante na boca de uma vez. Depois exclama com a mão na testa.
- Ai!
Vendo que Ele não tem jeito mesmo, eu esboço também um sorriso com minha boca pintada na face e balanço a cabeça para os lados.
- Posso pedir uma última coisa. – Ele me diz.
- Vai lá, o que é?
Ele aponta para o carro meio sem jeito, sempre sorrindo.
- Que foi quer dar uma volta? – Eu pergunto.
Ele balança a cabeça indicando que sim. Então eu pago a conta com uma nota de cinqüenta reais e mando o Seu Mariano ficar com o troco. Ele sorri, o Seu Mariano, como sempre sorri quando vê dinheiro e me diz pra voltar mais vezes, não sumir assim. Eu digo que volto sim e abro a porta do carro e mando Ele, não o seu Mariano mas meu amigo, entrar. Em seguida coloco o cinto de segurança n’Ele, em mim também, ligo o aparelho de som para ouvir o bom e velho Elvis Presley... Like a bridge over troubled water... e dou a partida. Ele ensaia uma pequena batucada sorridente no painel, ao mesmo tempo em que nós saímos pelas ruas do bairro em baixíssima velocidade. Antes de alcançarmos a primeira esquina ele aponta para o alto.
- Que foi quer que eu abaixe a capota? – Pergunto e ele mais uma vez balança a cabeça indicando que sim. Então aperto um botão e a capota aos poucos vai se guardando feito uma sanfona lá atrás. Ele está em êxtase e faz um dia lindo lá fora, como há muito tempo eu não via. Atrás do céu azul, espelho de tudo, devia estar o universo e, atrás do universo, um sorriso nos lábios de Deus... um sorriso nos lábios de Deus...
Daniel Lopes tem textos publicados nas revistas literárias Amálgama, Cronópios, Germina e Escritoras Suicidas. Publicou em 2008 o romance É preciso ter um caos dentro de si para criar uma estrela que dança, em 2010 publicou o livro de contos Pianista boxeador. Vencedor do prêmio Valeu Professor 2010, categoria conto. E-mail: danielopes26@yahoo.com.br
TEENAGE WASTELAND
(RÉQUIEM PARA ROGÉRIO CARVALHO DE FREITAS)
CREPÚSCULO
Quando a criança morreu,
Seus assassinos colocaram novos sapatos vermelhos de bico fino
e marcharam rumo às universidades, aos escritórios, aos supermercados, ao saco escrotal da psicologia moderna
Ao cu do Freud com Jung aplaudindo.
Já vinha a noite já, mas ainda havia luz
E os bares vendiam cerveja
E nossas mães estavam longe
E eu estudava ainda...
Ó crepúsculo insano e vermelho
Ó outubro estranho
Ó rio de ratos e baratas deste chão
Ó corda velha de varal que não arrebenta
Um real o metro e teus sonhos todos dependurados
Ó Rogério, gnomo mais triste do mundo.
Vai o Sol quente e indiferente
Já pararam para imaginar a casa vazia e suja?
Fogão velho
Botijão de gás novo
Geladeira alienada e vazia
A cama, nunca arrumada
O som, meu Deus
O som.
E o corpo pendurado no meio, sozinho
Já pararam para imaginar ele enchendo sozinho sua mochila de morte?
E no acadêmico as meninas flertavam com os rapazes, que olhavam as meninas.
Já pararam para imaginar o quão vazio era o silêncio?
E na cantina tagarelavam os professores ao jazz de colheres nas xícaras de café.
Já pararam para imaginar as mãos ficando roxas, as unhas, sem meia-lua, ficando roxas, os olhos fora das órbitas e as órbitas abertas ao nada?
Já pararam para imaginar o cansaço, a tristeza, o ódio, o tédio, a sensação de abandono, as unhas rasgando a carne do pescoço tentando em vão talvez voltar?
Um cachorro entra pela porta
(Vem a morte vestida de mosca e põe larvas no menino)
As creches soltam as crianças nas tardes onde as crianças ainda têm mães
(Vem a morte vestida de mosca e tira a música do menino)
Um semáforo fica vermelho, um pedreiro cai do andaime, um marceneiro perde os dedos, um açougueiro mói as mãos
(Vem a morte vestida de mosca, varejeira, e toca alegre a vinheta do vídeo show)
Uma mulher olha sentada da cama
(Vem a morte vestida de noiva e corta as unhas do menino)
Água estancada
Pedra
A letra U
Um urubu
O silêncio
As notas mais graves
Cruz
A barba que cresce indiferente
A cor preta
Um rato morto na rua Procópio Dias
Um carro quebrado
Uma pedra de gelo
Uma camisa do Náutico, do Corinthians, do Fluminense.
Um bom conselho
Você tentando dar comida na boca da Sílvia doida
Um trem azul
Uma voz de criança ao telefone
Um contra-baixo
Um porco magro
Um palco vazio
Um estádio de futebol
Uma caneta
A pasta na mão e o plano de partida.
Nunca mais seremos os mesmos, Rogério.
Nunca mais sorriremos nos bares tomando cerveja e ouvindo o clube da esquina.
Nunca mais voltaremos à nossa velha casinha velha
“Houvera tantas madrugadas em vão nessa esquina?”
AAAhhh!!! Quebra o gelo, irrompe o escuro, explode o delírio,
Mas volta parceiro, nem que seja
NOITE
Já
As dentaduras repousam nos copos
Uns casais que se amam e outros que nem se amam tanto assim fazem amor já
A lajota vermelha ainda está fria
Mas teus pés descalços já nem a tocam mais.
Já podes voar, parceiro
Indiferente às aranhas do mal que inundam a casa, aos ratos no chão.
Já podes voar, parceiro
Indiferente à noite densa que escorre pelas vidraças, sobre os bueiros, nas paredes dos prédios de apartamentos.
Teu corpo já não é necessário
Queriam o teu sangue e o teu sangue tiveram
Agora podes te rir desta corda estúpida, deste silêncio.
Da tua mochila de viagem brotam leões selvagens, canários da terra, do reino, uma pantera, um tigre, um cavalo, um punhal, um endereço marcado no papel,
lagartixas que também fazem parte, um natal, um mês de férias, camelos alucinados.
Já podes voar pelo todo
Foda-se o espaço da casa fechada
Fodam-se as reflexões do príncipe de Shakespeare
Teus amigos têm o crânio dormente
Voa que o infinito é irrisório
E o abismo não faz medo algum.
Teu coração brilha feito um Sol estático
Já vêm os anjos do Senhor ao longe e a roupa branca
Desmentindo tudo o que dizem a respeito dos suicidas
Se você fosse japonês seria recebido aí do outro lado com honras,
Samurai do parque Buracão.
Salve Rogério, salve
Segue, segue, segue Rogério, o rio,
Porque as águas dele são tão alvas.
Segue o rio, irmão
Segue o rio
Que os anjos estão chegando,
Com a roupa branca e tudo.
AURORA
Brotam rápido os girassóis do chão
E tuas mãos podem tocar os céus
Te faz sorrir a melodia mais bonita
O rio segue pelo campo de girassóis
Só não deves xingar os anjos
E as capas daqueles discos bons atrás.
O álcool já não faz diferença
A água já limpou tuas feridas
Deus te quer ao lado
Quer ouvir tuas canções favoritas
Corre o rio como um longo diamante
Já não precisas passar de ano
Já não precisas aprender inglês
Já não precisas perdoar cicrano
Esquecer o amor
O inverno ficou pra trás
Todos os filhos da puta ficaram pra trás
Já te brilha nos olhos uma terra maravilhosa
Segura a mão dos anjos, segue o rio
Olha o campo de girassóis
O Sol já vem
Como nos tempos de Office-boy,
Na estação da Luz.
MANHÃ
E vendo o Senhor Deus
Que ainda lhe faltava luz nos olhos,
Encheu-lhe os olhos de luz,
As mãos de sons,
Contra-baixo de marfim.
O Sol ilumina sem esquentar muito
A voz de Milton Nascimento
Nascente
Caminhando numa terra maravilhosa
Um poema antigo
Uma mulher bonita
Caminhando numa terra maravilhosa
Um carrinho de brinquedo
Uma pomba branca no céu azul
Caminhando numa terra maravilhosa
Longe dos ônibus, caminhões, serras-elétricas, fios de luz que te cortavam os olhos
Caminhando numa terra maravilhosa.
A Sofia está crescendo
Queria que ela sentasse no teu colo e te chamasse de tio.
O Ceará vai ter um filho,
Caminhamos pela Dom Antonio rumo à velhice inevitável
Longe vão os tempos da banda Assis
Longe vão os tempos do Neguinho
Longe vão os tempos do nosso tempo
Agora é só um vazio
E esse Sol que não se põe nunca
Queria fazer um longa-metragem falando da gente.
Queria ter te dado um beijo de adeus
Queria estudar latim.
Queria, queria, queria,
Sempre quis o impossível.
A AMIZADE
(Professor - Mestre GERSON MORAIS)
A amizade é algo tão estrondoso
Deixa uns animados, outros não;
É tão bom e gostoso
Que marca o nosso coração.
A amizade boa é aquela que não nos deixa errar
Usar a amizade de forma errada
Pode com certeza fazer você chorar
Seja compreensiva e não fique entendiada.
A amizade cria elos tão poderosos
Solidifica e conquista espaços
Faz-nos mais humanos
E permite-nos ser mais charmosos.
A amizade faz-nos cair de cabeça
Às vezes extrapolamos o real
O mundo é sensacional
Porém é preciso pensar no ideal.
A amizade faz uma construção
Derruba os obstáculos
E conquista grandes sonhos
Mas é necessário ter cuidado com os tentáculos.
A amizade não são apenas estrelas
Às vezes surgem as trevas
Saber contorná-los e velas
De uma forma que possa resolvê-las.
A amizade é muito importante
É primordial tê-la
Sem ela ficamos a mercê
De ficar só e morrer.
MATO GROSSO DO SUL MEU ESTADO, MINHA ESPERANÇA
(Professor- Mestre Gerson Morais)
Mato Grosso do Sul, é o meu Estado
Riquíssimo em saúde , lazer e educação
É muito mais promissor na economia e no trabalho
Sempre voltado para o crescimento de nossa nação.
Mato Grosso do Sul tem gente hospitaleira
Povo que gosta de sua terra e que produz
Gente de origem humilde e pantaneira
Que em setenta e oito municípios reluz
Mato Grosso do Sul gente que vive feliz
Estuda, trabalha e entende o processo
É uma gente que acredita no que diz
E faz de tudo para o seu progresso.
Mato Grosso do Sul de uma beleza incomparável
És rica em fauna e flora, és inigualável
Imensurável quantificar todas suas virtudes
Porém abriga um povo de grandes bondades.
Mato Grosso do Sul tem como capital Campo Grande
Corumbá é a capital do Pantanal
Bonito é a capital da Beleza
E o nosso povo é um povo sem igual
1.148.895 é a nossa população
358.158.4 é a nossa imensa área
Cimento, agricultura e mineração
É a nossa grande produção.
Mato Grosso do Sul é o símbolo do equilíbrio
Do trabalho, da serenidade , firmeza e da bonança
É a estrela dourada que brilha no imenso céu azul
Que resplandece a nossa riqueza e esperança.
Enfim, Mato Grosso do Sul
Aqui, nasci
Aqui, cresci,
Estudei e progredi
A ti sou grato e aqui ficarei por todo e sempre.
O PANTANAL
(Professor Mestre GERSON MORAIS)
O jacaré e o tuiuiú é o nosso símbolo,
As aves estão sempre a voar
O nosso pantanal é belo por natureza
As imagens que vemos são para nos conquistar.
Flora e fauna sempre abundante
Pessoas sempre a contemplar
Vegetação que nos fascina
Animais que nos cercam e nos faz amar.
A brisa que sopra no céu quase perfeito
Chuvas que ajudam a florescer o pantanal
Ventos que sopram as folhagens verdes
Vidas que representam parte vital da nossa biosfera.
E as nossas paisagens
o nosso imenso e caudaloso Rio Paraguai
as chalanas sempre a remar
as águas sempre a balançar
Buscamos em cada canto
Natureza mais bela
Difícil é acreditar que existe
Pois tudo de bom que percebemos
Na natureza, está aqui presente
A flora e fauna são o nosso cartão de visita
São exuberantes por serem do pantanal
Tem jacaré, capivara e até papagaio
Quantos visitantes nos cercam para conhecer essa riqueza natural.
Quero ser seu para sempre
(Professor -Mestre GERSON MORAIS)
Seja a minha fruta preferida
Minha relíquia
Meu amor completo
parte de minha vida...
Seja parte do meu corpo
Minhas palavras sempre prontas
meu pedaço que se completa
O meu entardecer e o anoitecer
Seja a minha flor sem espinhos
a noite estrelada
O dia ensolarado
A madrugada amada
Seja o meu sorriso
Os meus afagos dados
Minha alegria de viver ao seu lado
Meu corpo pedindo o teu
Seja não parte de minha vida
Mas sim a vida inteira
Acompanhe toda minha inspiração
nos meus jeitos e trejeitos...
Sejamos carne e osso
A minha pele pede a sua
Meus olhos miram nos seus
seus cabelos ao vento levam-me ao luar
Sejamos sempre um do outro
a parte que me cabe que seja sua
a parte que te cabe que seja minha
e que eu seja sempre seu e você sempre minha.
Estar juntos é doação
Doe-se sempre a mim
E sempre estaremos juntos
A reciprocidade deve sempre existir
Enfim tudo que nos rodeia
Faz parte de nossas vidas
Nossos filhos são frutos permanentes
Do nosso imenso e eterno amor
Por isso lhe digo quero ser seu sempre para você.
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
( Professor Mestre Gerson Morais)
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
ELE É RICO, PODEROSO E MUITO IMPORTANTE
PORÉM OS HOMENS POR GANÂNCIA
QUEREM DESTRUÍ-LO E ISSO É DILACERANTE
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
NÃO VAMOS DEIXÁ-LO ACABAR
VAMOS SER DIFERENTE
E ASSIM PODER AMAR.
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
NÃO VAMOS DEIXAR O HOMEM CONTAMINÁ-LO
A NATUREZA CLAMA POR CARINHO
É NOSSO DEVER PRESERVÁ-LO
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
VAMOS BUSCAR O MELHOR
É HORA DO POVO DESPERTAR
CUIDAR É A FORMA DE VALORIZAR
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
ELE NÃO ESTÁ PERDIDO
AINDA PODEMOS SALVAR O AR
A NATUREZA E A ÁGUA.
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
A NOSSA TERRA É BOA E TEM ALENTO
O NOSSO POVO É HORDEIRO
PRECISA APENAS DE UM BOM APERTO.
VAMOS PRESERVAR O NOSSO AMBIENTE
PRODUZIR MUITO MAIS
SER FELIZ COM QUALIDADE
E NÃO DESTRUIR JAMAIS.