quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

NA MANHA DE CHUVA

Sergio Bernado

Nova Friburgo/ RJ

Só o Bernardo de Manoel de Barros

é quase árvore.

Não sou

— apesar do verde

ser a cor preferida

e apesar das mãos

às vezes como galhos

e os pós como raízes.

À chuva que não passa não me alegra.

Mofo como um velho casaco

no escuro do armário e o meu bolor é visível na sisudea da cara.

Coisa estranha

: a chuva me seca.

Pena dos dois cães

que não latem na frente da casa

dos namorados com dois guarda-chuvas

que por isso não se abraçam

dos vendedores de picolé

sem a féria do dia.

Pena de mim

que odeio banho frio.

A própria terra

cansa-se da chuva

e por isso desaba

sobre as construções.

O próprio rio

quer fugir

e inunda a cidade.

A chuva, ela mesma se culpa

e se suicida

chovendo.

Até este poema

com medo de se encharcar demais

se esconde no nada.

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