Sergio Bernado
Nova Friburgo/ RJ
Só o Bernardo de Manoel de Barros
é quase árvore.
Não sou
— apesar do verde
ser a cor preferida
e apesar das mãos
às vezes como galhos
e os pós como raízes.
À chuva que não passa não me alegra.
Mofo como um velho casaco
no escuro do armário e o meu bolor é visível na sisudea da cara.
Coisa estranha
: a chuva me seca.
Pena dos dois cães
que não latem na frente da casa
dos namorados com dois guarda-chuvas
que por isso não se abraçam
dos vendedores de picolé
sem a féria do dia.
Pena de mim
que odeio banho frio.
A própria terra
cansa-se da chuva
e por isso desaba
sobre as construções.
O próprio rio
quer fugir
e inunda a cidade.
A chuva, ela mesma se culpa
e se suicida
chovendo.
Até este poema
com medo de se encharcar demais
se esconde no nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário